Inteligência artificial na moda: dados, criação e o novo processo das marcas

Inteligência artificial na moda: dados, criação e o novo processo das marcas

Inteligência artificial na moda: dados, criação e o novo processo das marcas

24 de dez. de 2025

Human Picks

Staff

A inteligência artificial passou a ocupar um espaço na indústria da moda, como parte ativa dos fluxos de criação, planejamento e comunicação. Marcas como Adidas, H&M e Gucci já utilizam IA para redesenhar produtos, antecipar tendências com meses de antecedência e criar campanhas inteiras sem depender exclusivamente de estúdios físicos.

Segundo estimativas da McKinsey, a IA generativa pode adicionar até US$275 bilhões ao lucro da indústria da moda até 2028. Hoje, cerca de 28% das empresas do setor já utilizam IA em fluxos criativos, e ferramentas como o DALL·E 3 atingem taxas de precisão próximas de 67% na geração de coleções a partir de prompts. Em muitos casos, sete em cada dez peças sugeridas por IA já seguem diretamente para avaliação ou produção.

Esses números ajudam a entender por que a conversa mudou. A questão passou a ser como a IA está sendo usada na prática: onde entra no processo, o que resolve, onde ainda falha e qual papel sobra para o olhar humano.

Este artigo observa esse movimento a partir de ferramentas reais, casos concretos e aplicações já em curso, do design ao marketing, da previsão de tendências à criação de campanhas.

Como a IA está transformando o design de moda

Vamos ser diretos: a IA não existe para substituir designers, mas para otimizar tarefas repetitivas, acelerar experimentações e encurtar o caminho entre conceito e criação. Ela funciona como uma extensão do repertório do profissional e libera espaço para o olhar humano justamente onde ele mais importa: decisão criativa, curadoria e visão estética. Quatro ferramentas ilustram bem como isso já acontece.

Midjourney: exploração estética e geração rápida de variações visuais

O Midjourney virou um laboratório de exploração visual rápida para designers de moda. Com poucos comandos de texto, é possível gerar dezenas de variações estéticas em minutos. Por exemplo: 

"jaqueta oversized de nylon reciclado, tons terrosos, fotografia editorial em Tóquio"

O diferencial do Midjourney está em captar padrões visuais a partir de milhões de imagens, reconhecendo texturas, iluminação, silhuetas e identidades de marca. A The Fabricant, referência em moda digital, usou Midjourney e Stable Diffusion na coleção DEEP, mostrando que peças virtuais podem gerar impacto emocional e comercial comparável ao de desfiles tradicionais.

Hoje, a plataforma atende marcas como Adidas, H&M, Off-White e Timberland, reduzindo amostras físicas, cortando custos de produção em até 90% e acelerando o ciclo conceito–protótipo entre 50% e 70%.

Mais do que uma ferramenta, é um novo método de criação. Coleções inteiras podem ser visualizadas antes de cortar o primeiro tecido.

DALL·E 3 e a consistência aplicada à moda

Enquanto o Midjourney se destaca pela experimentação visual, o DALL·E 3 se sobressai na precisão. E, convenhamos, consistência é um ponto essencial quando falamos de aplicações comerciais.

Um estudo da Universidade Nacional de Pusan mostrou isso na prática. Usando o ChatGPT para mapear o que foi tendência masculina até 2021, pesquisadores criaram 35 prompts para gerar possíveis coleções de inverno em 2024. Foram 105 imagens, muitas extremamente próximas das coleções reais daquele ano.

O DALL·E 3 atingiu 67,6% de acerto na execução dos prompts, reflexo direto da sua habilidade de interpretar linguagem com detalhe.

Aqui vale a regra simples: prompts ricos, resultados ricos. Quanto mais precisa a descrição, mais previsível e útil o resultado. Designers que dominam briefing, repertório visual e direção criativa para IA seguem em vantagem.

Nano Banana Pro e a reinvenção dos catálogos e campanhas

O Nano Banana Pro também está mudando a forma como a moda se mostra ao mundo. Com ele, marcas e criadores geram, editam e reinventam imagens. É possível criar lookbooks virtuais, maquetes de produtos em ambientes de lifestyle, variações sazonais e retoques detalhados com rapidez e economia, mantendo total fidelidade visual.

Um exemplo real e pioneiro disso é a Neural Fashion. A plataforma integrou o Nano Banana em seu ecossistema para resolver um dos maiores gargalos da indústria: a produção de conteúdo em massa para e-commerce. Com ele, a Neural Fashion agora permite que marcas transformem fotos simples de produtos (flat lays) em campanhas fotorrealistas em modelos digitais, garantindo que o caimento do tecido e a iluminação sejam quase indistinguíveis de uma foto real. 

Esse movimento resultou em uma enorme eficiência, permitindo que varejistas atualizem catálogos diariamente com uma redução de custos que chega a 80%.

Entre os recursos mais poderosos do modelo estão a fusão de imagens, edição local por comandos, consistência da identidade de modelos e uma compreensão profunda de luz, sombra e estilo. Isso permite que estilistas experimentem texturas, cores e combinações de forma dinâmica, personalizando peças e cenários sem perder a coerência da marca.

Com a atualização mais recente, o Nano Banana Pro supera limitações anteriores, como a renderização de tecidos complexos (rendas e transparências) ou logotipos pequenos, abrindo espaço para catálogos digitais de alta precisão, campanhas criativas e pré-visualizações interativas que refinam o futuro da fotografia de moda.

Donna: inteligência artificial pensada para o mercado brasileiro

A Donna se diferencia por ter sido criada especialmente para o ciclo de desenvolvimento de coleções no Brasil. Integrada ao sistema Coleção.Moda (PLM), ela não é "uma IA que também faz moda". É uma IA pensada para os fluxos reais de um estilista.

Com ela, a promessa é transformar croquis em imagens realistas, extrair paletas automaticamente, montar moodboards instantâneos e ajustar designs sem redesenhar do zero. Ao unir geração visual e gestão de coleção, a Donna resolve um problema comum: imagens bonitas que não viram produto.

No Brasil, outras marcas também avançam nesse caminho. A Renner integra IA à sua cultura de dados desde 2020, com análises automáticas de performance e sugestões semanais de ajuste no mix de produtos. 

A Reserva, em parceria com a Doris (fashion tech brasileira), criou um provador virtual que permite visualizar roupas no próprio corpo diretamente no site e no aplicativo.

Aplicações práticas: como as marcas estão usando IA na moda

1. Previsão de tendências

A francesa Heuritech analisa mais de 3 milhões de imagens por dia. A IA detecta estampas, cores e tecidos em ascensão. Isso se traduz em coleções mais alinhadas ao mercado, estoques mais enxutos e margens de lucro maiores.

A Zara usa IA para rastrear produtos e automatizar estoques, melhorando a gestão e antecipando tendências. A Shein trabalha com microprodução em tempo real, reagindo rápido ao que viraliza nas redes. Já a H&M, em parceria com o Google Cloud, cruza dados de vendas, estoque e fornecedores à medida que eles acontecem.

2. Protótipos digitais

A Tommy Hilfiger se tornou referência ao testar IA em sua iniciativa "Reimagine Retail", desenvolvida com o Fashion Institute of Technology (FIT). Nela, estudantes criaram coleções inteiras com algoritmos, mostrando que a IA pode reinterpretar identidades de marca sem perder essência.

O ganho é significativo. Testar dezenas de variações antes de produzir uma única peça física economiza tempo, dinheiro e reduz risco. 

3. Campanhas publicitárias com IA

Na moda, o movimento é semelhante ao publicitário, só que ainda mais provocador. Estamos falando de criar editoriais completos, com modelos, cenários e direção de arte inteiramente gerados com algoritmos, mantendo a intenção e olhar humano.

H&M (2025): a H&M lançou sua primeira campanha usando réplicas digitais de modelos reais, criadas por IA em parceria com a Uncut. A marca fotografou 30 modelos de múltiplos ângulos para criar gêmeos digitais fiéis, que foram então usados em imagens ambientadas em capitais da moda. 

Jörgen Andersson, diretor criativo da H&M, resumiu bem o espírito da iniciativa: "Estamos explorando tecnologias emergentes como IA generativa para amplificar a criatividade e reimaginar como apresentamos moda."

A H&M também confirmou que os modelos continuam sendo remunerados pelo uso de seus gêmeos digitais, com valores definidos nos mesmos moldes dos acordos atuais de uso de imagem.

Gucci (2025): A Gucci convidou a diretora criativa de IA Sybille de Saint Louvent para explorar o tema da dualidade na coleção Outono/Inverno 2025. Sybille, conhecida por criar campanhas "falsas" de moda com IA nas redes sociais, agora recebeu carta branca de uma das maiores grifes do mundo.

Entre os visuais gerados, um vídeo com figuras espelhadas ganhou destaque.

A Gucci não apenas aprovou como incorporou oficialmente essas imagens em seu mix de marketing, um passo ousado dentro do universo do luxo.

Mango (2024): para a linha Mango Teen, a marca lançou a coleção "Sunset Dream", considerada sua primeira campanha totalmente gerada por IA. Cada peça foi fotografada de verdade, depois a IA criou modelos virtuais vestindo as roupas, com ajustes manuais na pós-produção. O resultado são imagens realistas de adolescentes que não existem, que exibem bem cada look.

Valentino (2023): A Valentino apresentou sua linha masculina “Essentials” com uma campanha criada totalmente por IA. Apesar da referência à estética clássica de estúdio, o resultado seguiu um caminho mais surrealista, contrastando com as composições mais suaves e elegantes que caracterizam a marca, ainda que mantivesse o diálogo com suas cores icônicas.

O diretor criativo Pierpaolo Piccioli celebrou a iniciativa como uma janela para "possibilidades revolucionárias". 

John John (2023): no Brasil, a John John usou IA na campanha "Welcome To The Jungle", com o fotógrafo Lufre misturando cenários reais e elementos virtuais criados por algoritmos. A campanha mostrou que a integração entre fotografia tradicional e IA pode criar resultados híbridos sofisticados.

Essas campanhas reacendem debates sobre padrões de beleza, representatividade e o impacto no mercado de modelos. Mas, controvérsias à parte, o movimento é claro: as marcas não estão testando IA, estão integrando IA ao processo criativo real.

4. IA na experiência de varejo e operações criativas

Além de campanhas e design, a IA está transformando a experiência de compra e a gestão das operações. As marcas investem em tecnologias que aproximam o físico e o digital, personalizam a experiência do cliente e tornam todo o processo mais eficiente.

A Gucci vai do design com ajuda de IA às lojas imersivas, usando algoritmos para criar experiências únicas, incluindo telas que misturam a Florença renascentista com Sichuan, na China.

A Dior aposta em provadores virtuais e CRM inteligente para aumentar a personalização e reduzir devoluções. A Nike usa previsão de tendências e robótica para organizar melhor os estoques e reforçar a venda direta ao consumidor. Já a Balenciaga transforma seus desfiles em experiências imersivas com IA, permitindo que quem assiste online escolha o ângulo que quiser e tenha a sensação de estar na primeira fila.

5. Design colaborativo em tempo real

O potencial máximo aparece quando IA e designer trabalham juntos. A Adidas criou o AI Archive, treinado em décadas de designs históricos, para gerar novos tênis que homenageiam o passado enquanto exploram futuros possíveis.

Isso é human-in-the-loop: a IA sugere, você decide. Ela acelera, você direciona. 

O que esperar da IA na moda nos próximos anos

A combinação de inteligência artificial, realidade aumentada e análise de dados pode transformar o setor muito além da eficiência operacional. Algumas dessas mudanças já começam a se materializar:

Desfiles virtuais personalizados permitem que cada espectador veja a mesma coleção com diferentes modelos, ângulos de câmera ou ambientes adaptados ao seu perfil. O AI Fashion Week, evento global que reúne coleções inteiramente criadas por IA e avaliadas por um júri de peso da indústria, mostra que esse caminho já é possível. Os vencedores têm suas coleções produzidas e vendidas, provando que o design gerado por algoritmos pode chegar às lojas.

Os provadores virtuais se tornam cada vez mais realistas: caimento, textura e drapeado são calculados em tempo real sobre o corpo do cliente. O YourFit, da 3DLOOK, gera avatares 3D completos em menos de um minuto a partir de duas fotos tiradas pelo celular. 

Marcas como Ralph Lauren registram 90% de engajamento com essas ferramentas. A Fytted, que atende mais de 600 marcas como Nike e Lululemon, reduziu devoluções em 40% com a tecnologia. Até o Google entrou no jogo, com seu sistema de try-on. 

A segmentação de campanhas também se torna cada vez mais precisa, ajustando ofertas para microgrupos de clientes em tempo real. A Stitch Fix combina algoritmos de machine learning com estilistas humanos para uma curadoria individual, aumentando em 9% o valor médio dos pedidos. A Zalando já produz mais de 70% das imagens de campanha com IA generativa, cortando custos em 90% e reduzindo o tempo de produção de semanas para dias.

A Patagonia usa IA em sua plataforma Worn Wear para classificar produtos usados, precificar e prever demanda. A Stella McCartney aplica IA para pesquisar materiais ecológicos, analisando o impacto ambiental e tomando decisões mais conscientes.

Ferramentas de IA para designers testarem hoje

Se você é designer ou trabalha com moda e quer começar a experimentar IA, existem ferramentas acessíveis que podem ser testadas imediatamente:

  • Midjourney: geração de imagens e exploração visual a partir de prompts de texto. Ideal para pesquisa de referências, mood boards e exploração estética rápida.

  • DALL·E 3: integrado ao ChatGPT, oferece geração de imagens com alta precisão na interpretação de comandos. Bom para visualizar conceitos específicos de coleção.

  • Nano Banana Pro: fusão de imagens, edição local por comandos, consistência de modelos, controle de luz e sombra, variações rápidas e pré-visualizações interativas.

  • Canva com IA: ferramentas de padrões e texturas geradas por IA, acessíveis e fáceis de usar. Perfeito para criar estampas e padrões repetitivos rapidamente.

  • The New Black: ferramenta específica para moda, usada por mais de 100 mil designers. Gera designs de roupas, estampas e variações de produtos.

  • NewArc: transforma croquis à mão em renderizações fotorrealistas em segundos. Elimina a necessidade de rendering manual.

  • Khroma: IA que aprende suas preferências de cor e gera paletas infinitas personalizadas para seus projetos.

  • Heuritech: previsão de tendências através de análise de milhões de imagens de redes sociais e passarelas. Versão gratuita limitada disponível.

O futuro da moda já está em construção

A presença da inteligência artificial na moda já não se resume a testes pontuais ou ações de impacto. Ela está integrada a decisões de design, comunicação, operação e estratégia. Das imagens que ilustram campanhas aos dados que orientam coleções, a IA passou a atuar como uma camada contínua do processo criativo.

O que os exemplos mostram é que as marcas que avançam não são aquelas que delegam decisões à tecnologia, mas as que usam algoritmos para reduzir fricção, acelerar experimentação e ampliar repertório, mantendo a curadoria humana no centro. Ferramentas como Midjourney, DALL·E 3 e Nano Banana Pro não criam significado sozinhas, mas expandem a capacidade de testá-lo, refiná-lo e comunicá-lo em escala.

A moda sempre operou entre antecipação e leitura cultural. A diferença agora é que dados, imagens e simulações passam a conviver com intuição, referência e direção criativa no mesmo fluxo. Não se trata de escolher entre tecnologia ou autoria, mas de entender como essas camadas se combinam.

À medida que a IA se torna infraestrutura, o diferencial passa a estar na qualidade das perguntas, dos critérios e das decisões. É nesse ponto que a criatividade continua sendo profundamente humana.

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